quando já só com eles faz sentido...

31 janeiro 2006

Sem título, porque há coisas que não se dizem em palavras

  • A Patricia está cansada, não está?
  • Eu?! Talvez...
  • Ou está triste?
[...]
  • Eu acho que está desanimada. Com alguma coisa...

[...]

  • Foi do que aconteceu hoje de manhã?
  • Hoje de manhã?
  • Sim, hoje de manhã, quando a Patricia me veio buscar eu vi logo que estava chateada.
  • Não, não foi de hoje, estou cansada das muitas coisas que se juntam... Eu não me canso de uma coisa só, canso-me quando se juntam muitas.
  • Mas não pode ficar assim!
  • Mas eu não estou sempre assim, querido, hoje é que estou mais cansada.

[...]

  • Não é por a estar a ver agora a chorar que eu sei que está triste. Eu sei ver muitas coisas. A Patricia tem de pensar em si, também. Ontem fui deitar-me ao lado da minha irmã e estive a dizer-lhe isso, que a Patricia sentia coisas que não dizia.

[...]

  • É difícil estar sempre a rir. Eu tento estar bem, por exemplo, quando estou convosco... Eu luto por estar bem, mas às vezes ficamos cansados, só isso.
  • Eu sei que não é só de hoje, a Patricia acha que eu não sei quando está desanimada?! Eu sei, até ao telefone, eu sei! É por nossa causa? São coisas familiares?
  • Não, Pipocas, é tudo junto, o trabalho, a família, outras coisas.
  • Mas, quando eu estou desanimado, a Patricia diz-me para levantar a cabeça. Não pode desistir agora! Se a Patricia desistir agora, eu também desisto!
  • Não sejas tonto, eu não estou a desistir...

[...]

  • Vês, afinal sempre falei eu e tu deste os conselhos...
  • Eu não tenho idade para lhe dar conselhos, a Patricia já viveu muito mais do que eu, eu é que aprendo consigo.
  • Sim, aprendes comigo, como eu aprendo contigo. Não é só a idade que conta, sabes, tu já viveste coisas que eu não vivi, podes dar-me conselhos de coisas que já te ensinaram.
  • Sim, mas não é a mesma coisa.
  • É, claro que é. Olha o que tu disseste, que eu te mando levantar a cabeça e mandaste-me levantar a minha agora. Aprendeste uma coisa na vida e agora estás a usá-la para me ajudar.
de Terça-feira, Dezembro 27, 2005

30 janeiro 2006

Tenho um peso em cima dos olhos

É só mais uma das minhas enxaquecas. É o corpo, mais uma vez o corpo, que me castiga a vida. Quero sair, encontrar-te, trazer-te. Quero ver-te, dar-te a mão e mil carinhos. Quero que alegres a minha tarde. Quero e vou. Nada me impedirá. Mas este peso incomoda-me.

de Sábado, Abril 30, 2005

29 janeiro 2006

Mistérios da mente feminina

No seguimento da recusa de uma mulher, a M2, em deixar manter o contacto da sua filha com os filhos não-biológicos da outra, a M1, crianças que seriam qualquer coisa como primos, desenrola-se a seguinte conversa (as duas são familiares pois assim ficou determinado após duas assinaturas num qualquer papel num dia de inverno).
  • M1: Não sei se vou conseguir ir, as irmãs da L. vão para adopção e o tribunal determinou o corte com a ligação aos irmãos. A L. está a precisar do meu carinho.
  • M2: Que bom irem para adopção, só não percebo porque há-de o tribunal determinar que os irmãos não se podem ver!
  • M1: ... [o melhor é ficar calada ou ainda lhe dou um estalo... ora que raio, talvez o tribunal assim determine porque os pais adoptivos têm a mesma mentalidade do que tu, ó meu estupor!] [ainda bem que fiquei calada, mas meses passados continuo sem entender os mistérios da mente feminina] [há quem culpe as hormonas, eu culpo mesmo a maldade][lembrei-me disto hoje, o dia da sentença]

Puta de vida, é o que vos digo!


de Segunda-feira, Janeiro 16, 2006

outra vez KOTA???

Mas parece que foi um elogio...
Patricia, sabe o que o J. V. disse? Que a Patricia é uma kota mesmo fixe! De 0 a 20 é 30. Muita mesmo, mesmo. E tem umas jantes com muita pausa... Eu, tenho jantes? Não... o carro, não sabia? As jantes são pausadas mesmo! Mas kota?? Sim, mas kota bués fixe.

escrevi com "k" porque tenho a certeza que foi com "k" que o J. V. disse!!

de Quarta-feira, Junho 29, 2005

28 janeiro 2006

Chove outra vez

Tínhamos combinado ir à praia. Era um bom sítio para brincarmos com as crianças. Era um bom sítio para corrermos uns atrás dos outros. Era um bom sítio para as meninas se banharem na vaga enquanto tu chutarias a bola. Era um bom sítio para vos manter longe do dia da Mãe. Chove... hei-de encontrar solução.

de Sábado, Abril 30, 2005

27 janeiro 2006

O primeiro dia da Mãe

Já quase passou um ano desde que te tornaste Mãe. Amanhã é o teu dia. Já fizeste 14 anos. Não tens Mãe que te aconchegue, mas tens filha que abraces. Com força, com muita força. Com tanta força como a que abraças a tua vida. Boa V., és uma linda Mãe. És uma linda menina-mãe.

de Sábado, Abril 30, 2005

De que tamanho é o que sentes?

- De que tamanho é o que sentes, quando sentes muito?
- Não te sei responder a essas coisas...
- Sentes forte? Sentes pouco? Dói?
- ...
- Conheces o sentimento em bruto? Bruto, assim como o diamante antes de ser lapidado? Odeias alguém?
- Não sei, acho que não...
- Eu odeio uma pessoa, só uma. Odeio-a tanto como outrora amei outra.
- Não é a mesma coisa...
- Não, não é a mesma coisa, mas a dor que uma causa e a ausência da outra provoca... é igual. O Amor e o Ódio tocam-se no infinito, como as linhas paralelas.
- Aquelas linhas que sempre encaixas na tua vida... haja paciência!

[...]

- Não acredito que possas odiar alguém, não tu!
- Acredita que odeio. Um ódio de morte!
- A morte para ti não é uma coisa má, pois não? Não é o que sempre dizes? A morte liberta, a morte descansa... Além de que com todo esse Amor que em ti transportas, esse amor por tanta coisa, visível e invisível, não acredito que haja espaço para o ódio.
- Há, há sempre espaço em mim para o ódio, enquanto houver espaço na vida que me rodeia para quem eu odeio.
- Tu amas de mais, Patricia... Nunca conheci ninguém que amasse como tu. Tu destróis-te no amor.
- E por isso odeio tanto também. É do meu amor por uns que me nasce o ódio pelo outro!
- Outro? Um homem?
- Achas?! O outro é o bloco de gelo salgado!
- Salgado? Como o mar que amas?!
- Não, como a água que queima a ferida. Desinfecta mas não cura. Engana...

[...]

- Como eu odeio, meu Deus...
- Não chores...
- Deixa que chore...
- Mas as lágrimas também são sal, não curam!
- Não, não curam... definitivamente não curam! Mas enquanto me ardem os olhos não sinto o rasgar do peito. Como eu odeio!
- Vá tem calma...
- Quanta mais calma tenho de ter? Quanto mais calma me faço, mais me sinto morrer. Quanto mais calma arquitecto em mim, mais a sinto crescer, crescer, crescer... e o ódio de mim se ocupar.

de Terça-feira, Dezembro 27, 2005

26 janeiro 2006

Novas regras...

Isto hoje mudou!

'druska

Somos manas. Um mundo nos separa. Tenho quase o dobro da idade dela. Ela é bonita e magrinha, eu sou assim-assim e compacta. Ela desliza na vida, eu arrasto-me. Não tem sempre o que comer, eu nunca quero comer o que tenho sempre. Ela é orfã, eu tenho uma Mãe perfeita. Tem força, muito mais força do que eu. Não queremos o mesmo da vida, os meus amigos não sabem quem é, os seus namorados nunca vi. Fazemo-nos companhia nos quilómetros que galgamos juntas. Eu nasci com acesso a tudo, ela nasceu limitada a menos do que o mínimo desejável. Pede-me conselhos, ouve as minhas neuras. Conta-me as suas aventuras, eu conto-lhe as desventuras! Temos uma coisa em comum, gostamos muito deles.

de Sábado, Abril 30, 2005

As contas

Ontem estive contigo a estudar matemática. Esse terrível monstro que nos atormenta toda a vida... ao princípio não percebias porque tinhas de somar primeiro o que estava entre parênteses. Depois começaste a descobrir, pouco a pouco, o segredo daquelas fórmulas malucas... Perguntei, se a L. tem 237 laranjas, come 67 e oferece 39 à P., com quantas fica? Riste-te, respondeste certo e pediste para seres tu a inventar o próximo problema.

O C. tinha 486 bolas de futebol. O segurança tirou-lhe 49, 23 foram parar ao jardim da vizinha. Com quantas ficou o pobre coitado?!?!

Não te quero perder nunca! É essa a única fórmula mágica que quero saber resolver o resto da minha vida.

de Terça-feira, Fevereiro 01, 2005

17 janeiro 2006

Procura-se, nem vivo, nem morto

Talvez morto...

Alguém viu por aí um filho da puta? Não se sabe quando foi visto pela última vez, nem que roupa vestia, nem que destino queria... Foi, com toda a certeza, muito antes das 14:30 do dia 16.

Se alguém o vir, pedimos com todas as nossas forças, que lhe dê o seguinte recado:

Queremos mais é que te fodam e, de preferência, bem longe daqui, mas... estão várias pessoas, crianças até, à espera que te dignes a aparecer para ouvir uma sentença que, infelizmente, tem de aguardar o teu regresso. Sem ti, nada sabemos. Manias, burocracias, tribunais e advogados, a corja... Por uma última vez que seja, tenta respeitar pelos menos os que ainda são crianças!

16 janeiro 2006

Sentença

Pior do que qualquer sentença, é a angústia da espera.

Pior do que qualquer espera, é a angústia de saber que um pai não vai ouvir a sentença.

Pergunto-me agora se, há dois anos atrás, não teria sido melhor para todos que o 20 não o tivesse ameaçado com um buraco a sete metros do chão.

Perdia-se uma Mãe, sumia um pai, dividiam-se as crianças. Chorava-se em bloco e de uma só vez. Dois anos depois, vejo crescimento, ligações, esperanças juntarem-se num bolo de desilusões.

A pergunta fica sempre, o que é que eu poderia ter feito mais? Para continuar em Paz, só posso responder-me continuamente nada nada nada. Pode ser que um dia me convença. Até para o bem dos que ficam.

11 janeiro 2006

Eu nunca me esqueço de vocês!

Lá do alto da escada, quando já todos se afastavam, a 6 chama!

Eu nunca me esqueço de vocês!

Se for a última, será a melhor frase de sempre para um final infeliz.

Pergunto-me se ela saberá... É esperta, sabe que está numa casa que não sente dela, quando é que posso ir para casa? já estou aqui há muitos anos, estou farta do quarto dos sonhos!, deve estar a ser orientada para aceitar um novo Pai e uma nova Mãe... Saberá que pode ter sido a última?

Há jogos perigosos...

Hoje a 17, a 21 e o pai foram visitar a 3 e a 6.

Há jogos perigosos...

Ao fim de 22 meses, a Casa aceita uma visita, entre as 15:00 e as 16:00, pedida pela 17. Ao fim de 22 meses e a menos de uma semana da decisão do Juíz. É muito pouco provável que a decisão seja pela continuidade do elo à família. Ainda não sei como vou falar disto com a minha 10...

Mas dizia, uma visita. Porquê? Se a Casa desmontou em tribunal qualquer tipo de tentativa de justificação da importância da ligação entre os irmãos, não falo do pai, porquê aceitar agora uma visita? A dias da oficialização da perda do poder paternal, porquê? A dias da 3 e da 6 irem definitivamente fazer parte de outro mundo, onde não há espaço para estes outros?

Porque a Casa não é magnânime, não está ali para nos fazer o jeitinho, para dar a mão aos que sofrem deste lado... Muito menos quando os telejornais nos enchem os olhos e os ouvidos de histórias de crianças maltratadas. Por um pagam todos e, vendo bem, até é justo. Por uma criança incorrectamente retirada ao seu meio original, podemos estar a salvar 10. Ou não... A irmã do A foi devolvida ao fim de um ano... casos, casos, casos, montam-se e desmontam-se.

Mas a casa tem muita experiência. Desta forma desmonta, também, qualquer tipo de argumento que se baseie na dificuldade, real e documentada em todo o processo, em acordar horas de visita com o 20, o real cabeça de casal, na falta de flexibilidade, nos entraves. Pois se, a poucos dias da separação formal, ainda facilitaram o encontro.

Só tenho pena que, mais uma vez, o horário tenha sido imposto para as 15:00, impossibilitando novamente a presença do 20.

07 janeiro 2006

As personagens principais

Vou falar de cada uma das minhas personagens apresentando-as pela sua idade na altura da morte da Mãe, no dia 27 de Dezembro de 2003. Mas a história começa ainda a menina mais nova não tinha nascido, em 1999.

Numa casa viviam, e as idades são as de 2003:
  • Uma Mãe (daquelas com maiúscula) alcoólica
  • Um pai (daqueles como minúscula)
  • 5 Filhas: 3, 6, 10, 13 e 17
  • 2 Filhos: 14 e 20

Ainda, como semi-principal, mas não a viver na mesma casa, mais uma filha de 21 com uma filha 3 e um filho 1. Um "marido" de idade próxima.

Os outros somos nós, os que girávamos e ainda/ou não giramos em torno deles.

O fim de mim neles

Eu ia usar este espaço para contar a minha vida em imagens. Andava a digitalizar fotografias antigas e a escolher algums novas. E...

De repente, estava ali indolentemente sentada no sofá da sala, da televisão saía o som de mais uma história de terror, maus tratos, violência, crianças, a minha Mãe comentou quando eu fui à segurança social denunciar que o pai deles tinha levado uma puta, perdoem-me a expressão, mas era mesmo isso, uma puta lá para casa e que a Mãe andava toda marcada, a assistente social disse que não podiam intervir porque as crianças não apresentavam marcas de maus tratos.

Foda-se! Disse eu, e que mais podia dizer?! Então, quando, na quinta-feira, a Juiza me perguntou se as crianças estavam mal tratadas, durante o ano em que estiveram entregues a si mesmas, e eu respondi que não, eu tinha razão. Nenhuma das crianças daquela família apresentou, em qualquer altura que fosse, qualquer marca de maus tratos, segundo o informado pela própria assistente social. Enquanto a advogada da Casa tentava desmanchar a minha definição de crianças bem tratadas eu deveria ter desmanchado a definição de crianças sob custódia da assistência social e/ou comissão de protecção de menores.

Foi então que se desmanchou em mim este projecto egocêntrico e decidi morrer aqui por Eles.

Uma história é sempre uma história, factos verídicos misturam-se com emoções. Episódios baralham-se na esfera do Tempo. Antes, depois, quando... não há uma definição precisa. Aconteceram coisas ao longo destes 6, a caminhar 7, anos, que eu vou relatar. Reavivar em mim? Não! Para reavivar, em mim, estas histórias estão Eles mesmos na minha Vida, para lá do sempre.

Vou apenas contar o que vivemos, eu, eles, a minha Mãe e todos os outros nós que foram estando presentes a meio caminho entre o metro quadrado mais caro do concelho de Cascais e uma favela versão Portugal.

Se alguém ler, ou for lendo, talvez nunca venha a perceber a história. Não apanhe o fio à meada. Se perca em regressos ao presente. A verdade da história só se entende vivendo-a.

Veremos o que daqui sai, meus Amores.