quando já só com eles faz sentido...

27 janeiro 2006

De que tamanho é o que sentes?

- De que tamanho é o que sentes, quando sentes muito?
- Não te sei responder a essas coisas...
- Sentes forte? Sentes pouco? Dói?
- ...
- Conheces o sentimento em bruto? Bruto, assim como o diamante antes de ser lapidado? Odeias alguém?
- Não sei, acho que não...
- Eu odeio uma pessoa, só uma. Odeio-a tanto como outrora amei outra.
- Não é a mesma coisa...
- Não, não é a mesma coisa, mas a dor que uma causa e a ausência da outra provoca... é igual. O Amor e o Ódio tocam-se no infinito, como as linhas paralelas.
- Aquelas linhas que sempre encaixas na tua vida... haja paciência!

[...]

- Não acredito que possas odiar alguém, não tu!
- Acredita que odeio. Um ódio de morte!
- A morte para ti não é uma coisa má, pois não? Não é o que sempre dizes? A morte liberta, a morte descansa... Além de que com todo esse Amor que em ti transportas, esse amor por tanta coisa, visível e invisível, não acredito que haja espaço para o ódio.
- Há, há sempre espaço em mim para o ódio, enquanto houver espaço na vida que me rodeia para quem eu odeio.
- Tu amas de mais, Patricia... Nunca conheci ninguém que amasse como tu. Tu destróis-te no amor.
- E por isso odeio tanto também. É do meu amor por uns que me nasce o ódio pelo outro!
- Outro? Um homem?
- Achas?! O outro é o bloco de gelo salgado!
- Salgado? Como o mar que amas?!
- Não, como a água que queima a ferida. Desinfecta mas não cura. Engana...

[...]

- Como eu odeio, meu Deus...
- Não chores...
- Deixa que chore...
- Mas as lágrimas também são sal, não curam!
- Não, não curam... definitivamente não curam! Mas enquanto me ardem os olhos não sinto o rasgar do peito. Como eu odeio!
- Vá tem calma...
- Quanta mais calma tenho de ter? Quanto mais calma me faço, mais me sinto morrer. Quanto mais calma arquitecto em mim, mais a sinto crescer, crescer, crescer... e o ódio de mim se ocupar.

de Terça-feira, Dezembro 27, 2005